HOMILIA QUINTA FEIRA SANTA 2014
Hoje é o dia da eucaristia. Da eucaristia e do sacerdócio.
Ambas as coisas estão intimamente unidas. Hoje, todos os bispos, padres e
diáconos da diocese do Porto estiveram na Sé em celebração eucarística.
Chamamos missa crismal, porque nela o bispo benze os óleos que vamos usar neste
próximo ano. E renovamos também as nossas promessas sacerdotais.
Agora estamos aqui, reunidos no fim desta quinta feira para
lembrar o que Jesus fez para nos salvar. Antes de oferecer o seu corpo e sangue
no calvário, ofereceu-se na eucaristia. Aqui e agora antecipamos o sacrifício
da cruz. "Tomai todos e comei, tomai e bebei" - é uma forma muito
própria de Jesus se nos entregar. O que dizer da eucaristia?
1 - mistério da fé
sim, devemos olhar para a eucaristia como Moisés para a sarça ardente: com um sentimento de
assombro e reverência; a eucaristia não é mais um sinal; é o sinal do amor de
Deus. Um amor que é duma grandeza e duma profundidade que nos desconcerta, que
nos arrebata, que nos desinstala. Um amor que não compreendemos por inteiro,
mas que é a força que infunde esperança ao mundo. Para entrarmos no coração do
mistério eucarístico temos de ser conduzidos pela graça de Deus. Quando
preparava os pastorinhos para as aparições de Nossa Senhora, o anjo
ensinou-lhes orações e ofereceu-lhes o corpo e o sangue de Jesus.
que terão entendido os apóstolos ao participarem daquela
ceia misteriosa? diante da cruz compreenderam melhor a eucaristia. Mais ainda a
compreenderam quando em Emaús dois discípulos puderam celebrá-la de novo de um
modo até aí inimaginável. E assim o faziam os primeiros cristãos que não podiam
passar sem a eucaristia. Porque a eucaristia não era passado; era ato de amor
sempre renovado, sempre atuante, sempre fecundo.
E que dizemos nós aos nossos pequeninos que vão receber em
breve a eucaristia? Pais, dizei-lhes: é um mistério de amor e de vida!
Mostrai-lhes vós que esse mistério de amor e de vida é fonte de alegria e de
paz para vós e para todos!
2- não a merecemos mas dela precisamos
devemos estar diante do mistério como Pedro na pesca
milagrosa - Senhor, afasta-Te de mim que sou um homem pecador - e quanto maior
é o milagre da eucaristia comparado com o da pesca abundante!
Num destes dias, ao Ricardo na última catequese que lhe
apresentei, lembrava uma frase repetida por S. Cirilo de Jerusalém: coisas
santas para os santos. Como que dizendo:
quem não for santo que não se aproxime. Quem não faz por ser santo, por crescer
na santidade, estará a esquecer o arrependimento e a conversão como um
pressuposto para a celebração da eucaristia. Um sacerdote missionário junto do
povo Massai em Africa conta que o povo preparava durante quase todo o dia a
eucaristia e que ela só era celebrada no seguimento desse tempo de purificação.
De tal modo levavam isso a sério que se fosse necessário adiava-se a eucaristia
para o dia seguinte. Se tivesse havido atos de indiferença ou de ódio entre o
povo, não poderiam cometer o sacrilégio contra a eucaristia. Temos de fazer por
merecer este dom da eucaristia. Hoje não há pecados - ouvimos muitas vezes.
Lembremos as palavras de Zaqueu, que diante do desejo de Jesus de ficar em sua
casa, entendeu a necessidade da conversão. E quando Jesus lava os pés aos seus discípulos
é , de algum modo, para indicar a purificação e o arrependimento que são
precisos para podermos participar na eucaristia.
Dizia há dois meses o Papa Francisco:
"Por vezes, alguém pergunta: «Por que deveríamos ir à
igreja, visto que quem participa habitualmente na Santa Missa é pecador como os
outros?». Quantas vezes ouvimos isto! Na realidade, quem celebra a Eucaristia
não o faz porque se considera ou quer parecer melhor do que os outros, mas
precisamente porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e
regenerado pela misericórdia de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo. Se não
nos sentirmos necessitados da misericórdia de Deus, se não nos sentirmos
pecadores, melhor seria não irmos à Missa! Nós vamos à Missa porque somos
pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar na redenção de Jesus
e no seu perdão. Aquele «Confesso» que recitamos no início não é um «pro
forma», mas um verdadeiro acto de penitência! Sou pecador e confesso-o: assim
começa a Missa! Nunca devemos esquecer que a Última Ceia de Jesus teve lugar
«na noite em que Ele foi entregue» (1 Cor 11, 23). Naquele pão e naquele vinho
que oferecemos, e ao redor dos quais nos congregamos, renova-se de cada vez a
dádiva do corpo e do sangue de Cristo, para a remissão dos nossos pecados.
Temos que ir à Missa como pecadores, humildemente, e é o Senhor que nos
reconcilia."
Irmãos: na quaresma que terminou, repetimos tantas vezes a
frase proposta pelo papa Francisco: Jesus sendo rico, fez-se pobre para nos
enriquecer com a sua pobreza. Este é o mistério que hoje celebramos, que sem
mérito algum da nossa parte, precisamos como alimento para o caminho.
Comentários
Enviar um comentário